sábado, 25 de junho de 2011

Lábios de Mosto

Quem me conhece sabe-me apaixonada pela Simone. De apelido Oliveira eu considero-a um Carvalho, forte e resistente. Cresci numa casa onde se ouviam nomes como Paulo de Carvalho, Carlos Paredes, Zeca Afonso, José Mário Branco, Carlos do Carmo e onde o Festival da Canção ainda era – longe vão os tempos – um momento de entretenimento. A primeira vez que ouvi a “Desfolhada” devia ter uns 8/9 anos e nunca mais me esqueci do verso “quem faz um filho fá-lo por gosto” que ainda hoje uso regularmente para criticar o facto de já não ser assim. Se o José Carlos Ary dos Santos tivesse composto a música hoje, provavelmente seria algo como: “quem faz um filho faz porque, olha aconteceu e pronto”. Acho que não há, em Portugal, ninguém que cante como a Simone, que transpareça tão bem sentimentos através da música.

A verdade é que tive o prazer e a honra de num dos meus primeiros trabalhos jornalísticos entrevistar a "minha" Simone. Não estava nervosa, estava antes extasiada. Assim que a vi fui ter com ela e quando me preparava para lhe dar o formal aperto de mão ela puxou-me e deu-me dois beijinhos. Começámos a entrevista, e as palavras dela, tal como quando canta, saiam carregadas de força e de emoção, como se cada palavra que dissesse fosse a última e quisesse pôr nela todo o seu sentimento. Às tantas deixei o gravador fazer o seu (e meu) trabalho e deixei-me embalar pela sua conversa e ainda que tenham sido dez minutos, foi aqui que percebi o quanto gosto do meu trabalho.

Nesse mesmo dia tive também com outro incontornável nome da minha infância, o “Sr. Contente”, também conhecido por Nicolau Breyner. Falei poucos minutos com ele mas mais uma vez senti-me levada a outros tempos. Porém, para vos elucidar que o jornalismo por vezes prega-nos partidas devo confessar que nem tudo correu bem….o Nicolau ia ser homenageado como Pai do Ano e eu perguntei-lhe que significado tinha esta homenagem como Avô do Ano…com as filhas dele ao lado. Claro que nos rimos e dissemos piadas e a entrevista seguiu o seu curso normal, mas quando saí fiquei a sentir-me um tanto ou quanto constrangida.

E assim foi um dos meus primeiros trabalhos: felicidade, emoção, calinadas…e hoje, com mais umas quantas coisas feitas sei que é este o meu caminho, quero escrever, quero contar, quero partilhar.

1 comentário:

  1. Estamos numa profissão em que a linha que nos separa das calinadas é quase invisível. Calhou bem ter sido o "Sr Contente" e não o "Sr Mal-disposto-antipático-rabujento". Hão-de aparecer, o segredo está em reconhecermos humildemente o erro ou ter um grande jogo de cintura e dar a volta sem que sequer se perceba (talvez aos 50 anos de carreira).
    Quanto ao momento "Simone", espero que muitos mais surjam e que o êxtase se repita por muito mais vezes.

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