segunda-feira, 26 de março de 2012

A angústia de uma profissão que nem num país pacífico é segura

Neste texto vou tentar, sem garantias, abstrair-me da angústia permanente, da revolta que não me larga e da indignação que persiste pelos acontecimentos de quinta-feira, quando dois fotojornalistas foram agredidos pela PSP durante a manifestação da greve geral.

Sempre me senti confortável nesta profissão, embora consciente dos riscos que lhe estão inerentes. Claro que, em reportagem na Líbia, Egito ou em qualquer outro cenário de guerra, os riscos são evidentes e a integridade física fica vulnerável. Não vou falar em situações óbvias.
Sempre acreditei que, apesar de todas as injustiças sociais, mentalidades com que não me revejo e pensamentos cada vez mais sujos que existem na nossa sociedade, Portugal era um país seguro.
No entanto, na quinta-feira, ao final da tarde, o Largo de Camões, em Lisboa, tornou-se um palco de terror para dois fotojornalistas que, em paz (digo-o com toda a segurança por saber de quem falo), queriam apenas cumprir o seu trabalho.
Não vou descrever os acontecimentos. Estou cansada dos vídeos e das fotografias que, em mim, causam uma angústia desmesurada.
Não vou sequer comentar a atuação dos agentes da polícia (quantos palavrões ainda me apetecem dizer), porque já foram feitas muitas condenações acertadas.
Não vou também avaliar a posição da Direção Nacional da PSP e do Governo, numa oportunidade de se remediarem nos próximos dias.
Quem nos devia proteger, ataca. Quem nos devia defender, acusa.
Estou cada vez mais desiludida com este país
No entanto, reconforta-me a solidariedade dos colegas, companheiros de microfone, câmaras ou bloco de notas que, fora da competição para conseguir um “furo”, manifestaram um apoio incontestável.
Não só os colegas de profissão, mas também as centenas de pessoas que se juntaram a esta indignação. Ainda há gente boa e com bom senso. (Escrevo em esforço para não pensar nos comentários negativos, que também existiram, mas que traduzem uma minoria ignorante, frustrada e de palavras vazias, felizmente).
Por fim, quero lembrar que os dois fotojornalistas agredidos, José Sena Goulão e Patrícia de Melo Moreira, merecem ser conhecidos por muito mais do que isto.
Por isso, façam o favor de pesquisar no Google o brilhante trabalho destes dois profissionais e o seu talento que, ao contrário de muita coisa que se passa neste país, não é escondido.

Quero muito que seja feita justiça (inocente esperança que me sobra por este país), mas se isso não acontecer (retomo à realidade), ao menos esta mancha, ainda que efémera, no nome daqueles que usam farda, exibem distintivo e vangloriam-se pela suposta defesa da segurança pública, já ninguém tira.
MDM