quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Horário livre à beira Tejo

Já falei aqui da minha condição profissional. Sou jornalista, correspondente em Cascais e Oeiras e “tapa buracos”, como eu chamo carinhosamente e sem qualquer preciosismo, em Lisboa.
Hoje não foi um dia de tapa buracos em Lisboa, mas vim até à capital trabalhar.
É inverno mas está um sol quente mesmo a convidar à esplanada. Aceitei o convite, pois claro.
Escrevo sentada à beira Tejo, em Alcântara, a passar-me ao lado - literalmente - o trânsito frenético da ponte 25 de Abril, com música clássica de fundo e um batido de morango a acompanhar. A descrição faz crer que estou em lazer, mas a verdade é que na mesa está também a desarrumação habitual da minha secretária, com um bloco de notas, duas canetas, três telemóveis, uma pen e o portátil.
Eis a vantagem de que falava há tempos de não ter um horário das 9 às 5, ter de trabalhar num sítio fechado, 30 telefones a tocar ao mesmo tempo e estar sentada numa cadeira que arruína as costas.
Não vou falar das desvantagens, porque essas já todos conhecem, quer seja pela voz dos políticos ou dos indignados que por aí andaram a manifestar-se (com razão, sublinho).
Bem, mas este dia hoje faz-me querer pensar e falar de coisas boas, apesar de há minutos ter escrito duas notícias sobre assaltos, outra sobre protestos, pensar que tenho 16 páginas de um jornal para escrever e 96 e-mails para ler.
Tudo boas razões para desanimar, não fosse o facto de ter já reservado uma viagem de quatro dias para Florença em fevereiro. Outra vantagem da minha precariedade no trabalho. Vi a viagem e comprei, sem preocupação de quantos dias de férias tenho por gozar ou se o meu chefe me deixa. Claro que tenho de dar conhecimento da situação, informar em jeito de pedir autorização e não abusar.
Enfim, isto para dizer que hoje estou bem disposta. As festividades que deram alguma paz ao trabalho e o bom tempo deixaram-se assim, apesar de ainda ontem ter ido a uma consulta de urgência e em vez dos habituais 2,50 euros, paguei 5 euros de taxas moderadores e ainda ter deixado 30 euros na farmácia. Enfim, são os tempos que nos esperam nos próximos anos e dói, sim, mas já todos sabíamos.
Enquanto a crise se instala e ganha espaço, eu cá continuo também instalada aos recibos verdes que, com tudo de mau que acarretam, e eu bem sei, fazem-me, pelo menos hoje, usufruir de um horário livre à beira Tejo.

MDM

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