sábado, 12 de novembro de 2011

“Sem subsídios?!”. Sobrevive-se

Hoje não vou falar de nenhuma experiência profissional, não vou contar nenhuma história sobre uma entrevista ou reportagem que tenha feito, não vou falar do bem que me sabe ter esta profissão e da sorte que tenho em fazer aquilo que sempre escolhi.
São tudo verdades, mas hoje apetece-me falar para aqueles que choram os subsídios de Natal e de Férias que vão perder como consequência das medidas orçamentais impostas pelo novo Governo.
Primeiro que tudo, quero deixar bem claro que as próximas linhas que escrevo não têm absolutamente nenhuma tónica partidária.
Bem, não se fala de outra coisa no último mês. Apesar das duras medidas de austeridade que nós vamos ter de enfrentar nos próximos anos – e quando digo “nós”, refiro-me mesmo a nós jovens, que iniciam agora carreira, que ambicionam uma vida independente fora da alçada dos pais e os mais afetados no meio deste caos todo – as palavras de maior revolta vão dos que perderam os subsídios de Férias e de Natal.
Lá vão estes contratados a ganhar mais de mil euros ficar sem o ordenado extra que lhes permite gastar 600 euros em presentes de Natal ou ter de deixar de ir para o Algarve 3 semanas e ficar só uma.
Trabalho há dois anos a recibos verdes. Subsídio de Natal? Nunca tive. Subsídio de Férias? Tão pouco.
Estive mais de um ano a ganhar à peça. Admito que não ganhava mal mas, em agosto, à falta de trabalho, juntava-se a falta de dinheiro. Não só não tinha subsídio de Natal como nem sequer ganhava ordenado nesse mês e… sobrevivi, à custa de viver em casa dos meus pais e de não ter contas para pagar e de sempre me ter preocupado em juntar algum dinheiro que me permitia pôr gasolina no carro e poder jantar fora com amigos algumas vezes.
Hoje estou com outro vínculo, mas contínuo sem conhecer os tais tão valiosos subsídios.
Sou uma das que pertence, não à geração “à rasca” - tenho conseguido “desenrrascar-me” e acho que há quem esteja bem mais “à rasca” que eu – mas à geração “precária”.
Compreendo que estejam muito revoltados com esta medida [digo-o sem ponta ironia], mas se tivessem um ordenado mais baixo, como eu, sem vínculo de segurança ao local de trabalho e a poder ser despedida assim que aos superiores lhes der na veneta, como eu, a ver o salário diminuir por ter de pagar Segurança Social, IVA e descontar IRS, como eu, talvez pensassem que não vale a pena chorar.
Não tenho filhos, colégios para pagar, prestação de casa ou carro, é verdade, mas por este andar, com os bloqueios de futuro que aparecem sem mais nem porquês, também não hei-de ter tão cedo. Afeta a uns de uma forma, a outros de outra. É a vida.
No fundo, quero com tudo isto dizer que até compreendo que esse bónus de dezembro e de agosto vos dê muito jeito e seja muito bom, mas, acreditem, sei do que falo, sobrevive-se sem ele.

MDM

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